quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Tarefas: 03 de dezembro, quarto

fiz dobraduras de roupas e papéis
inventei lugares para guardar a coisa
escrevi silêncios no barulho da máquina 
não joguei o nada fora

domingo, 23 de novembro de 2014

Em mãos II

um risco
em trânsito
                                                              - amor latente -

no corpo
impulso
                                                          - que lança o desejo -

que gira e faz volta
dançando os tempos soltos
                                                            - no ato da linha-


sábado, 15 de novembro de 2014

Das noites pouco contemporâneas


"Só que precisava dos outros para crer em si mesma, senão se perderia nos sucessivos e redondos vácuos que havia nela. Meditava enquanto batia à máquina e por isso errava ainda mais"
(A hora da estrela, C.L)

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Em mãos

do transe à transa
a palavra lambe
descansa a língua
acolhe o corpo

no ato que é
no ato de ser

desejo.

sábado, 18 de outubro de 2014

Do buraco V


quando a morte me olhou nos olhos, fui eu quem abri a porta

ela trazia trapos enrolados nos braços e não possuía cheiro

aqueles trapos, pensei, eram meus restos que ela carregava no colo feito um bebê

eu sorrio cúmplice e os recebo com gratidão

Em tempo...


domingo, 28 de setembro de 2014

Para ela, pelos nossos anos

(Do buraco IV)

Eu me convido a entrar. O corpo busca o papel para se deitar... A dor no corpo, o cansaço no corpo, o pesar no corpo, o próprio corpo... A( )pesar. A morte existe porque há um corpo. Finito, frágil, instável. A vida existe porque há um corpo. Finito, frágil, instável... É nesse lugar que eu sou, esse do corpo que sente. Que vive e morre, que se alegra e adoece, que grita e silencia. Neste instante estou exatamente por onde as coisas atravessam... Te vejo sentada, muito bem apoiada pela palavra que contraditoriamente não dizia. Qual o nome da dor que te carregava no colo? Que dor é essa que tenta se livrar do corpo? Ou... que dor é essa que ocupa um lugar inalcançável, fora do corpo e que precisa ser trazida, levada a ele como um caminho possível, suportável? As minhas perguntas se suspendem... Confesso: existe uma dor em mim também. A gente se toca às vezes... E agora enquanto escrevo posso vê-la agachada no canto, abraçando os joelhos e respirando em pulsos regulares... Minhas palavras são quase uma cantiga de ninar, elas compõem esse silêncio sem angústia para que a respiração sobressaia. Então é isso? - me surpreendo! Você me olha nos olhos e sinto que inverteu a lógica dos nascimentos, somos cúmplices. Quanto da sua voz eu trago nas mãos? Na volta à cidade, deixo a porta entreaberta caso você queira escapar mais um pouco.
Pelos caminhos, traço no silêncio a nossa cura. Eu, remédio. Eu, palavra.


sábado, 20 de setembro de 2014

(carto)grafias de mim


Que seja assim e que passe pelo corpo. É aqui o começo, onde a escrita atravessa. Parece não haver palavra no mundo incapaz de encontrar esse corpo à deriva e o enlaçar para o lado de cá. Haverá momento em que me perderei da escrita? Em que direi: Não quero. Não consigo.(?) Associo a escrita ao corpo como uma marca segura. Se nos perdermos é para cá que voltarei, onde não dá para deixar de estar. Perceba que é diferente de quando dizia de querer construir um corpo na linguagem, um corpo que existe na palavra... Essa é a entrega sincera de agora: ofereço meu corpo aberto para que a minha escrita se faça. Me autorizo. Me autorizo a errar. Me autorizo a tentar. A falar, repetir, reelaborar. Me autorizo a escrever sem doer. Que diga de uma dor, que cure ou não... Mas mesmo quando fardo inevitável, que me respeite. Me autorizo a sujar o texto de mim e amar cada fragmento, cada traço. Mesmo incompleta, mesmo em busca. Respeitar as ausências. Querer-se mesmo assim. Me responsabilizo nas minhas pequenas alegrias. É preciso estar para ser. O lugar é meu, não do outro. É preciso cuidar dele... O corpo é meu, não do outro. Afirmar é difícil, ainda mais quando se encontra a transitoriedade das coisas... Mas a afirmação pode ser um estar e afirmo mais uma vez que não quero que doa. Essas palavras precisam sair assim, como quem conta, como quem canta... E atravessa confiante sem olhar para os lados. Atravesso eu para esse lugar. Desacelero. Sinto o chão. Confio no meu caminho. Meus vales, meus morros, meus abismos... Sim, sou eu. Nesse encontro, nesse abraço, nessa escrita...

Para ouvir: Tocando em frente (Almir Sater) - por Maria Bethânia

domingo, 14 de setembro de 2014

Sobre(vivendo) setembro II

Desenho: Danielle Souza




   LISTA: "Para dividir"


      - Crise de primavera talvez seja um nome poético para inferno astral.
      - Florescer dói.
      - Se plantar em casa cura...
        - Ouvir: Solitude – Mariana Aydar

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Sobre(vivendo) setembro I

LISTA "Porque isso não é sobre querer andar de mãos dadas com você pelas ruas de La Plata (mas poderia ser)":


- A escrita do lado de lá cá tem buracos.
- A palavra quer abandonar coisas...
- Procuro uma gata chamada Macabea para amar profundamente.


sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Titereiro


A busca do conforto vinda na mão que segura o lápis e faz a volta. A palavra quer curar o corpo no papel. A prisão do branco faz aceitar preenchimentos visíveis, palpáveis. Uma história tece a rede, sopra o sussurro da voz que acalenta e adormece em instante. A felicidade quer ser, mas há a marca do corpo que pesa, desmede. O mal-estar surpreende, atravessa o sono e desperta madrugadas tranquilas. O estômago dói existe. A cabeça dói existe. O útero dói existe. Cedo na tentativa voluntária de expelir a dor, encontro a recusa existente da garganta que se fecha. Os ralos – buracos que levam a não sei onde – permanecem intactos, ocos, numa espera infinita e noturna. Esse incômodo surge para ficar guardado, existindo. A mão segura firme o fio solto... Insone, a escrita compulsiva tenta se derramar mais rápido que a bile. Ilusão de controle. É ele – o corpo – que (falha, padece e) grita: agora escreve. Existe.