sábado, 20 de setembro de 2014

(carto)grafias de mim


Que seja assim e que passe pelo corpo. É aqui o começo, onde a escrita atravessa. Parece não haver palavra no mundo incapaz de encontrar esse corpo à deriva e o enlaçar para o lado de cá. Haverá momento em que me perderei da escrita? Em que direi: Não quero. Não consigo.(?) Associo a escrita ao corpo como uma marca segura. Se nos perdermos é para cá que voltarei, onde não dá para deixar de estar. Perceba que é diferente de quando dizia de querer construir um corpo na linguagem, um corpo que existe na palavra... Essa é a entrega sincera de agora: ofereço meu corpo aberto para que a minha escrita se faça. Me autorizo. Me autorizo a errar. Me autorizo a tentar. A falar, repetir, reelaborar. Me autorizo a escrever sem doer. Que diga de uma dor, que cure ou não... Mas mesmo quando fardo inevitável, que me respeite. Me autorizo a sujar o texto de mim e amar cada fragmento, cada traço. Mesmo incompleta, mesmo em busca. Respeitar as ausências. Querer-se mesmo assim. Me responsabilizo nas minhas pequenas alegrias. É preciso estar para ser. O lugar é meu, não do outro. É preciso cuidar dele... O corpo é meu, não do outro. Afirmar é difícil, ainda mais quando se encontra a transitoriedade das coisas... Mas a afirmação pode ser um estar e afirmo mais uma vez que não quero que doa. Essas palavras precisam sair assim, como quem conta, como quem canta... E atravessa confiante sem olhar para os lados. Atravesso eu para esse lugar. Desacelero. Sinto o chão. Confio no meu caminho. Meus vales, meus morros, meus abismos... Sim, sou eu. Nesse encontro, nesse abraço, nessa escrita...

Para ouvir: Tocando em frente (Almir Sater) - por Maria Bethânia

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