(Do buraco IV)
Eu me
convido a entrar. O corpo busca o papel para se deitar... A dor no corpo, o cansaço no corpo, o
pesar no corpo, o próprio corpo... A( )pesar. A morte existe porque há um corpo. Finito,
frágil, instável. A vida existe porque há um corpo. Finito, frágil, instável...
É nesse lugar que eu sou, esse do corpo que sente. Que vive e morre, que se
alegra e adoece, que grita e silencia. Neste instante estou exatamente por onde as coisas atravessam... Te vejo sentada, muito bem apoiada pela
palavra que contraditoriamente não dizia. Qual o nome da dor que te carregava
no colo? Que dor é essa que tenta se livrar do corpo? Ou... que dor é essa que
ocupa um lugar inalcançável, fora do corpo e que precisa ser trazida, levada a
ele como um caminho possível, suportável? As minhas perguntas se suspendem...
Confesso: existe uma dor em mim também. A gente se toca às vezes... E agora
enquanto escrevo posso vê-la agachada no canto, abraçando os joelhos e respirando em pulsos regulares... Minhas palavras são quase uma cantiga de ninar, elas compõem
esse silêncio sem angústia para que a respiração sobressaia. Então é isso? - me surpreendo! Você me olha nos olhos e
sinto que inverteu a lógica dos nascimentos, somos cúmplices. Quanto da sua voz
eu trago nas mãos? Na volta à cidade, deixo a porta entreaberta caso você
queira escapar mais um pouco.
Pelos caminhos, traço no silêncio a nossa cura.
Eu, remédio. Eu, palavra.
Para ouvir: De mais ninguém - Marisa Monte
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