sexta-feira, 29 de maio de 2015

eu e a escrita

Se for possível, que essa escrita deslize pelo ouvido e me faça cócegas. Hoje é preciso certa delicadeza... Uma morte anunciada ronda o texto, mas me sento com ela e digo: vou escrever sem doer. Então abro bem o buraco e espero ansiosa.

À mão da mãe pertencia a volta. O balanço quebrou, o irmão dormiu, a mesa está posta e é chegada a hora... Não quero! mas quero também. sim e não sei. Nada é sempre bom. Certo é aquilo que diz: não escreva... é que o certo nunca se deu para escrita, disso eu já sabia. Veja como leão é um bicho muito grande e tem só quatro letras! A bruxa caiu da cama e eu também, aproveito e invento uma história. “Era uma vez dois irmãos órfãos de pai e mãe...” começo uma lista: Bruno e Bruna. Paulo e Paula. Daniel e Daniela. Pedro e Pedra! O feminino virou coisa... O mundo era muito e não se escrevia. A mão virada para trás segura o lápis e caminha em frente. Braço torto, escrita torta. Do fio da linha à borda da folha. Para atravessar é preciso perder. A escrita é dessa nudez, do corpo que dança. Arrancaram minhas roupas e não tive escolha. 

Então que seja assim, e que passe pelo corpo... é aqui o começo, onde a escrita atravessa. Se há um verbo que me rasga, eu costuro na falta o tecido da letra, ponto a ponto, linha a linha, furo a furo. necessidade lembrança ser sede corpo casa desejo só e tanto. Do medo de mar ao medo de amar há um silêncio a ser oferecido, não me esquivo.

Sou mulher de palavra,

quinta-feira, 7 de maio de 2015