sábado, 7 de novembro de 2015

Vaca amarela


Nem mais um pio! a mãe dizia. Lá no fundo do quintal, o passarinho já de olhos bem abertos queria acordar para fazer a menina feliz. 

O silêncio tinha um rastro amarelo e ocupava este lado da casa. Sentava sem medo onde quer que fosse e ficava observando a menina. A boca fechada para não entrar mosquito, não era uma escolha engolir uma a uma as palavras que queriam dobrar a língua. Passou a inventar os caminhos por onde sairiam silenciosas, sem que ninguém percebesse.

“Não! Não nasci para engolir a bosta de ninguém!” queria falar primeiro, gritando.

Mas antes que pudesse, o gato comeu a língua dela, bebeu todo o leite e fez a vaca pular da janela.


(do te-ser memória_2)