sexta-feira, 4 de julho de 2014

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Eu transitava com maestria a linha entre a chegada e o mais além. Até então escrevia ali, no limite da mentira. Saía do lugar comum e ia percorrer os contornos de ser. Mas queria mais e suspeitava que para isso era preciso perder. De repente queria me chutar pro lado de lá e cair sem graciosidade, rastejando. Para além da mentira não há verdade, há isso. Sente? Não faz sentido... Porque não me faço, te apresento essa minha sinceridade nua e quanto mais me aproximo dela menos você me crê. O olhar acostumado se apega aos mesmos visíveis. Para além da roupa, para além da pele, não vê? Mas é ali. Então escuta, ouve o que a minha palavra não diz. Ouve apenas o que ela é. Estou com antipatia das metáforas. Há beleza na metáfora. Há poesia também, não julgo. E um absurdo de expressão. Neste texto deveria haver palavra, apenas. Observe esse mar que encontra o céu num beijo no horizonte... Poderia falar desse beijo, das metáforas desse azul de fluxo e céu, mas te conto que estou no entre. Eu atravessei a metáfora e vim parar num lugar que não é atrás. Estou no vazio imenso e óbvio que você não vê porque vê o beijo. Não pense que sou melhor do que você ou que sou feliz. Sou no máximo capaz. Talvez estúpida. Sim, eu sou capaz de estar aqui e isso me dá uma espécie de prazer, um deslumbramento. Mas o tempo está passando, e pergunto ‘o que eu faço?’. É que me falta referências. Queria escrever daqui, não sobre aqui, não sei dizer. Queria conseguir sujar a palavra. Não consigo, não alcanço a insignificância necessária. Já se passaram 8 dias e a angústia é insuportável. Consigo um cigarro. Dois, três. E agradeço a fome que os acompanha. Arrumei uma função para o estômago e a angústia diminui por uns momentos. Mais tarde pego o diário, a caneta, escrevo duas frases e choro no travesseiro. Me levanto, risco uma palavra, paro. O tempo continua. Preciso dormir, me masturbo (aperto os botões certos da máquina do corpo). Existo brevemente em pequenos pulsos além de mim. Adormeço. Eu confundia o horário e chegava atrasada. Me desculpe, por favor, me desculpe, eu preciso! Eu preciso hoje, não estou dando conta... Você ainda me quer? Você me aceita? Por favor... É um pesadelo. Lembro de ter levado a outra no meu quarto e de que havia um buraco retangular na parede, um buraco laranja, vivo, de terra. Ela olhou esse buraco. Tentei esconder e ele continuou existindo. Mas ela não fez nenhum comentário. Pensava comigo, você também tem um! Eu sei que tem!, você gosta? Por que não somos cúmplices?, me diz alguma coisa, eu preciso ouvir... Acordo com muito frio, percebo meus pés. Quero um chão. Em algum lugar uma voz me pergunta de onde eu vim. Sinto alívio... Então tem um porto! Recolho meus fracassos, me esforço e inicio a volta. Não ter me parece ser a melhor maneira de partir.


Nadar,nadar,nadar, nada .ar! esse respiro que quebra além e retorna arrastando os restos do caminho, descubro o mar no feminino: A  mar.

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