A menina do penso quebrado
A menina tinha o penso quebrado! Nasceu assim,
não sabia explicar, não sabia nem o que era isso e se espantava com as
perguntas. Aliás, se espantar era algo que sabia muito bem... De resto, não
sabia de quase tudo. Deixava cair o queixo e abria os olhos bem grande. De
penso quebrado via que não há mistério no rabo das lagartixas. Mas há beleza ou feiura e o número de piruetas que ele dá antes de jazer inerte no
chão. Via que o amarelo era amarelo, o azul era azul e que tinha gente que chamava
o verde-água de azul-piscina e era isso mesmo, variâncias de olho... De penso
quebrado, brincava de roda e de pique-esconde, comia manga e chocolate se
lambuzando sincera e sem metafísica. E ela não precisava de penso pra saber que
ficava às vezes triste e que tinha medo de escuro. Entender não entendia de
nada não, mas existia assim, acreditando...
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