domingo, 27 de abril de 2014

do papel (,) do corpo


De repente havia um corpo!... Corpo-objeto de desejo, desvendado por outras mãos... As minhas um dia se ocupariam da escrita e tentariam criar um corpo próprio. Assumi o corpo como linguagem, existindo a partir da palavra... Escrever para compor um corpo. Incorporar... Porém há um corpo anterior que risca o papel. Que corpo é esse que escreve, mas não se inscreve? Um corpo que vibra, que arrepia, que pulsa... O corpo respondia a outro corpo. Quando esse outro se assemelhou ao meu foi um reconhecimento. Pegar, encostar, sentir. Com-tato. Olfato, audição, visão, paladar. Corpo sensível, formado de sentidos. Este corpo observava o chão escuro pedindo mergulho, quase um abismo. Um pé de cada lado. O último degrau, pesando o corpo para trás, faz questão de afirmar a gravidade. O impulso vem de uma impossibilidade. Mas esse impossível pede existência. Tentativas de se inscrever no espaço. Momento de perder-se... Esquecer de si neste instante-já, fugidio. O inesperado sangra. Grita sua insatisfação. O corpo adoece! Susto... Então o corpo nos escapa? Medo. A morte só existe porque há um corpo. E a vida? Há vida através do corpo, a-pesar do corpo... O meu encanto é quase um ato de resistência frente à dor. “Você não vai me impedir de ser” “Você não vai me impedir de me amar pelo que eu sou, mulher...”A morte é demasia do corpo, é corpo em plenitude. A vida não tem contrários. 

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