segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Àquelas e a seus(nossos) silêncios moventes

“Ouve-me, ouve meu silêncio. O que falo nunca é o que falo e sim outra coisa. Quando digo “águas abundantes” estou falando da força de corpo nas águas do mundo.”
Clarice Lispector em Água viva

As melodias nos misturam, mulheres-mãe, mulheres-menina, mulheres-irmãs, mulheres-amigas, mulheres-avós…  Um chamado: é preciso! Apesar de... Em troca de... Por causa de… A música incita o corpo que vibra, liquefaz... Os acordes me preenchem, fecho os olhos, aceito o mergulho e giro, giro, giro...

Tragada por nossas próprias ondas, prossigo. Uma noite de luta, de protesto, de fluxo, de composição, de afeto... Noite construída e derramada...

Histórias fluem sussurradas nos ouvidos para serem escritas no espaço. Uma escrita feita da dança, do movimento - pulsar efêmero -, para ser diluída e apanhada. Constantemente refeita em um novo “instante-já que de tão fugidio não é mais”, como diz Clarice. “Esses instantes que decorrem no ar que respiro: em fogos de artifício eles espocam, mudos no espaço.”

É de um dizer impossível que o corpo se alimenta e segue. “A música é o silêncio em movimento”, escreveu Sabino. E assim também éramos nós, tecendo as dores, as faltas, os gritos contidos, os suspiros. Desenhando memórias (re)inventadas no balanço do ir e vir de tempos suspensos.
...

(O corpo que acorda dói o movimento do mar de dentro, ressaqueado. Dor boa! A garganta ainda amarga o eco da voz, tenho sede. Tenho sido, sou-me. Com todas nós...)




(Essa escrita faz parte das conseqüências inevitáveis da ação performática “Em caso de dor, eu danço” realizada em Mariana-MG em 13 de novembro de 2013. Agradeço a todas as mulheres que de alguma maneira compuseram aquele momento.)


2 comentários:

  1. Por igualdade de gêneros, por uma sociedade menos cruel, por mais leveza, por menos mortes diárias. Pelo lilás em medidas igualitárias de azuis e vermelhos. Lindo, Olga! Um beijo!

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