“Ouve-me, ouve meu silêncio. O que falo nunca é o que falo e sim outra
coisa. Quando digo “águas abundantes” estou falando da força de corpo nas águas
do mundo.”
Clarice Lispector em Água viva
Clarice Lispector em Água viva
As melodias nos misturam, mulheres-mãe, mulheres-menina, mulheres-irmãs, mulheres-amigas, mulheres-avós… Um chamado: é preciso! Apesar de... Em troca de... Por causa de… A música incita o corpo que vibra, liquefaz... Os acordes me preenchem, fecho os olhos, aceito o mergulho e giro, giro, giro...
Tragada por nossas próprias ondas,
prossigo. Uma noite de luta, de protesto, de fluxo, de composição, de afeto... Noite construída
e derramada...
Histórias
fluem sussurradas nos ouvidos para serem escritas no espaço. Uma escrita feita da
dança, do movimento - pulsar efêmero -, para ser diluída e apanhada. Constantemente refeita em um novo “instante-já que
de tão fugidio não é mais”, como diz Clarice. “Esses instantes que decorrem
no ar que respiro: em fogos de artifício eles espocam, mudos no espaço.”
É de um dizer impossível que o
corpo se alimenta e segue. “A música é o silêncio em movimento”, escreveu Sabino.
E assim também éramos nós, tecendo as dores, as faltas, os gritos
contidos, os suspiros. Desenhando memórias (re)inventadas no balanço do ir e
vir de tempos suspensos.
...
(O corpo que acorda dói o movimento do
mar de dentro, ressaqueado. Dor boa! A garganta ainda amarga o eco da voz,
tenho sede. Tenho sido, sou-me. Com todas nós...)
Para ouvir: [ElenaSoundtrack] Valsa para Lua-Vitor Araújo
(Essa escrita faz
parte das conseqüências inevitáveis da ação performática “Em caso
de dor, eu danço” realizada em Mariana-MG em 13 de novembro de 2013. Agradeço a
todas as mulheres que de alguma maneira compuseram aquele momento.)