em terceira pessoa, pois talvez você não seja a quem este texto se dirige. à uma terceira pessoa que
ocupe o lugar do destinatário como a marca de uma escolha. a terceira pessoa, no caso, ele, surge no texto a partir de sua
ausência.
então ele não
chega e eu a olhar atenta e esperançosa os carros maiores a descer e subir a
rua. não que ele tenha dito que
chegaria hoje, eu que gosto de imaginar surpresas, uma forma de não deixar o
silêncio tão vazio. revivo repetidamente as memórias boas de nossos dias, como
uma história que chega pelo meio e aguarda após a respiração da vírgula o
caminho seguinte, mas não só.
por vezes ele me sai
da cabeça. então assustada sigo a refazer lembranças da ausência. o dia em que
não me olhou, as histórias que não ouviu, o café não experimentado, as pedras
que não presenciaram nossas mãos dadas, banhos de cachoeira não acontecidos. tudo isso pensado com um certo rancor,
aquele que acompanha a tristeza de quem se vê interrompida do prazer de tantas
possibilidades. como um livro cheio de começos belos e apenas começos.
aprecio
muito os bons começos.
e dentre os nossos começos um deles se deu pela palavra. sei
que nunca se termina no mesmo ponto onde se iniciou, eu não ensaio um fim, não pretendo. sentada
ao chão do quarto estamos eu e a escrita, sabendo que deixar vazio o lugar do
destinatário não é contingência, é inevitável. escrever é costurar a ausência na terceira pessoa.
é, mais uma vez, e sempre, tentativa de achar começo.
um convite.
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