em frente ao mar, 18 de janeiro de 2016
Joana,
a carta segue a lápis, o que tem sido incomum nos últimos
tempos. minhas mãos coçam, tenho tentado fazer a vida seguir na espuma dos
dias, assim, como bolhas na superfície das ondas que se movem em busca de um
respiro. é preciso ter cuidado, Joana, ali, na leveza, corre-se o risco de
arrebentar-se e cair na imensidão do oxigênio, numa mistura indefinida. não é o
que queremos agora. da mesma forma que a espuma desenha o mar, há um limite em mim
e ele se faz na ponta dos dedos, você sente?
o limite da onda é a espuma e acima
dela acabou o mar e vira outra coisa. as pessoas amam até que as coisas se explodem numa
imensidão disforme de oxigênio.
não gosto muito do que estou dizendo... às
vezes gosto, às vezes não gosto, penso que digo pelo medo de tudo isso que não se diz mas que cresce ilimitado e sempre mais e mais e mais...
♪ “nem se eu bebesse o mar, encheria o que eu tenho de
fundo” ♪
um mar inteiro. um amor inteiro. e eu, inteira de falta. resolvo que hoje eu não vou entrar no mar, Joana. ele fica, ele espera... há escolha? pois a minha está feita, hoje estou feliz
em ver o mar não se acabar.
um sopro,
T.
Para ouvir: Queixa - Caetano